quarta-feira, abril 20, 2005

"Bloguem-mos, e deixemo-nos de merdas!"

Munido de uma lata de Raid [Saudoso João....João Saudoso!], e entretanto um saco de gelo sobre o pé entorsado (de entorse....), futebolisticamente trocidado, completamente entortado, caldo entornado, da bola magoado, muito maltratado, esperei longamente que aquele petiz despertador matutino [foi hoje às 5h da manhã(!)], qual milímetro esvoaçante mais desprezível, ousasse bater as asas uma vez mais que fosse despertando-me, pisando o risco, arriscando a vida vá, atrevidamente.

Pois é. Mais uma noite mal dormida por causa de um destes insectozinhos. Pffff...bloguem-mos!!!

Há pouco, na palheta com O pantera cor de rosa aqui do blog, falava-se de chimpanzés, macacos do nariz e outros pongídeos, nossos antepassados com capacidades de monitorização do ambiente. Não sabem o que é monitorização? Vão ver ao dicionário, desculpem-me, mas instruam-se... tem que ver com a capacidade de relacionar num mesmo plano espácio-temporal mais de dois fenómenos simultaneamente. Acham-me demasiado teórico? É a evolução da nossa espécie meus amigos, vem n' O Porquê das Coisas, da Editorial Verbo, do ano: "há muito tempo atrás". [Espero muito sinceramente que continuem a editar essa bíblia científica, é um dos pilares da minha formação intelectual. Essa e a tabuada do Ratinho, ex aequo, ocupam o pódio nessa volta a Portugal das bibliotecas].

Fomos, Mr. Pink e eu própio, muito atrás na evolução, cladisticamente falando, muito atrás(!), ao tempo em que uma determinada linha filogenética seguiu um rumo, e foi desovar Pombos, nobre ave, portentosa, porca, cagando aqui e ali, quem sabe ocasionalmente na sua cabeça, mas copulando somente em Campo de Ourique. É verdade meus amigos, os pombos preferem este cosmopolita bairro para - além de cagarem, voarem e brincarem com a Maria da Fonte, no da Parada - foder, assim que o Sol se pronuncia. Eu pessoalmente também gosto muito de Campo de Ourique, e digo-o enquanto o Manuel João canta aqui na telefonia, com os seus manos catita, a marcha do bairro deste ano nos santos populares. Há um je ne sais quoi [um não sei o quê], um aroma familiar ao melhor bolo de chocolate do mundo que me faz sentir bem sempre que lá vou. Mas esta conversa veio a propósito de uma crónica bem gira que O pantera cor de rosa vislumbrou. Leiam-na. Bem gira.


"Disfunção eréctil, por Mário Bettencourt Resendes

Gozo, há meia dúzia de meses, as «delícias» da vida no centro de Lisboa. O meu bairro, Campo de Ourique, é, por sinal, um dos mais tradicionais e agradáveis da capital. Tem restaurantes bons e baratos, outros ainda melhores e nem por isso particularmente caros, há comércio de qualidade em vários ramos, cafés simpáticos, pelo menos um jardim acolhedor. Os moradores mais antigos tratam com afabilidade os recém chegados e conservam o espírito solidário – por vezes a roçar a intromissão... – característico da Lisboa de outros tempos.

Para quem se instala habituado ao desafogo das vias de algumas zonas da periferia, o trânsito é o maior inferno de Campo de Ourique. O estacionamento processa-se de forma selvagem, bloqueia-se o acesso a garagens, dificulta-se a entrada em ruas mais estreitas, obrigando os condutores a exercícios de risco em matéria de golpe de vista, enfim, é bom nem pensar o que pode suceder em algumas travessas de Campo de Ourique se um incêndio nocturno exigir a presença urgente de carros de bombeiros.

Campo de Ourique tem ainda outra praga, porventura menos falada, mas que funciona como autêntica tormenta para quem não é obrigado a acordar às seis horas da manhã. Todas as madrugadas, os pombos do bairro escolhem, entre outros lugares de pouso, a janela do meu quarto de cama para exercícios ruidosos. A instalação externa do aparelho de ar condicionado proporciona um cantinho recatado que as aves destinaram a um ninho de amor ideal.

Nos primeiros tempos, decidi encarar com tolerância o romantismo «pombalino» e convenci-me de que, com o passar dos dias, acabaria por habituar-me. Falso: há muito que não sei o que é uma noite bem dormida e consolidei uma enorme aversão aos avanços sexuais dos pombos. Na minha mente, ganharam terreno instintos assassinos e fui congeminando planos maquiavélicos capazes de me devolver o sossego da madrugada.

Acabei por optar pela guerra psicológica. Espero, com paciência, aquilo que penso ser o pré-climax pombalino. Aí, puxo os estores com rapidez e ruído e assisto, com satisfação incontida, à fuga em voo dos casais depravados. Espero, no mínimo, provocar problemas graves de disfunção eréctil aos pombos da minha rua..."
(http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=2&id_news=168848)


Saudoso Peteca, nestes dias de caseira nostalgia é bonito lembrar-te o bairro que cá te espera sempre. As pequeninas coisas são as mais engraçadas, como os pombos fodilhões de Campo de Ourique, os Fonsecas e Meireles de cá ;)

[Vésperas de jantar na pizzaria, e o gradual desprendimento dos sentidos numas quaisquer escadas a dar para o mar...]

Deixemo-nos de merdas, não acreditemos no Eça e no nosso perfeccionismo da forma, e bloguemos como os Pombos de Campo de Ourique O fazem: sempre a aviar cartuchos!!!